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Devam Bhaskar – O Divino Deus Sol que resolveu trazer mais beleza ao mundo


Devam Bhaskar

O Divino Deus Sol que resolveu trazer mais beleza ao mundo

Talvez em seu imaginário a figura de um iluminado ao menos se aproxime da de um monge sentado no topo de uma montanha ou refugiado por anos no meio de uma floresta, vivendo de luz. Prepare-se para ampliar essa imagem depois de ler um pouco sobre o jornalista Geraldinho Vieira, ou Devam Bhaskar, nome dado pelo mestre espiritual Osho.

Por Thays Prado

2011 – Revista Bons Fluidos (editora Abril).

Sentado entre 400 pessoas, numa conferência na Índia, em março deste ano, talvez ninguém tivesse notado um homem de cinquenta e dois anos, um pouco calvo, a pele levemente mais clara que a dos indianos, de olhar doce e voz tranquila. Um sujeito absolutamente comum, como ele mesmo se define.

Mas, em meio à multidão, os olhos do mestre indiano Sri Bhagavan – fundador, juntamente com sua esposa a mestra Sri Amma, da Oneness University – encontraram os daquele jornalista brasileiro e o mestre declarou que ali havia um iluminado. Só o fato de um mestre se dirigir a um discípulo já é motivo de grande alegria, afinal, há uma troca muito especial de energia entre os dois no momento. E um anúncio daqueles era algo que estava além de qualquer expectativa.

Mas, naquele instante, Geraldinho Vieira, de nome espiritual Devam Bhaskar, dado pelo mestre indiano Osho, em 1982, foi tomado pelo maior silêncio que já havia experimentado. Ele sentia-se vazio de emoções e, ao mesmo tempo, inundado de amor. “Meu mestre havia plantando uma rosa no meu coração, era como receber o mais lindo presente de todos os tempos. Naquele instante vi toda minha vida, tudo o que vivi, se transformando em gratidão”.

Talvez, como muita gente, você também pense que, para se iluminar, seja necessário nascer na Índia, ter algum dom especial, viver em um mosteiro ou ir para uma floresta e meditar dia e noite por anos a fio. Mas essa não é a história de Bhaskar.

Durante sua infância, em Belo Horizonte, só muito de vez em quando acompanhava a mãe católica à igreja e teve suas devoções infantis, mas nada fora do comum, apenas gostava da paz daquele lugar e simpatizava com alguns santos. Já na juventude, enveredou por uma formação política materialista e socialista e não tinha, propriamente, uma busca espiritual. Nem sempre suas experiências de vida foram fáceis. Aos 24 anos, já era casado, pai de dois filhos pequenos, tinha se aventurado, sem sucesso, a morar em São Paulo para trabalhar com José Celso Martinez Corrêa, no Teatro Oficina, e até tentou administrar, com alguns amigos artistas de vanguarda, uma pousadinha na cidade de Prado, no Sul da Bahia, ainda pouco turística naquela época. E de tanto beber, à noite, o lucro que tinha de dia, acabou tendo que voltar para Brasília, sem dinheiro e com uma forte hepatite. Logo depois, se separou da primeira mulher.

Mas como a vida parece ter uma inteligência própria, acima de nossas vontades e caprichos, em 1982, para sustentar os filhos e pagar as próprias contas, Geraldinho precisou fazer algumas resenhas de livro, como freelancer, para a extinta Editora Tao e acabou lendo trechos das primeiras publicações de Osho no Brasil. Na pressa em entregar logo o material, nenhuma mensagem daquelas obras lhe tocou profundamente.

No entanto, como o dono da editora estava enrolando para pagar pelo serviço, Geraldinho foi até ele cobrar o que lhe era devido. Quando chegou ao local, se deparou com várias fotografias de Osho e pediu uma delas, quase em tom de brincadeira. Foi para casa e pendurou a foto na parede. Dias depois, sem pensar em nada, seus olhos se fixaram profundamente nos daquele retrato e ele sentiu um frescor diferente, uma vontade enorme de ler, pra valer, os ensinamentos do mestre. Poucos dias depois, enquanto almoçava com uma amiga, comunicou a ela, sem que pudesse controlar as palavras que saíam de sua boca: “me tornei um sannyasin (discípulo) de Osho”. Estava apaixonado pelo mestre!

E, então, Geraldinho iniciou a busca por si mesmo, o que incluía, fortemente, a prática da meditação. Ele escreveu para a comunidade de Rajneeshpuram, onde Osho vivia, no estado de Oregon, nos Estados Unidos, e disse que queria ser seu discípulo. Como resposta, recebeu uma carta com alguns dizeres e seu novo nome – Devam Bhaskar, que em sânscrito quer dizer “Divino Deus Sol”.

Ele morou em Rajneeshpuram durante dois anos, entre 1984 e 1985, quando teve a oportunidade de entrevistar Osho, pessoalmente, duas vezes para o Correio Braziliense e uma vez para a Folha de São Paulo – possivelmente a última entrevista que o mestre indiano concedeu à imprensa antes de deixar o corpo, em 1990.

No final de 1985, Bhaskar voltou ao Brasil para rever os filhos e levar uma vida mais convencional durante um tempo. Acabou se apaixonando pela fotógrafa Mila Petrillo, na redação do Correio Braziliense, com quem é casado até hoje. Mila se interessou pelos ensinamentos de Osho e também iniciou sua busca espiritual, mas ela e Bhaskar resolveram seguir vivendo no Brasil para acompanhar o desenvolvimento dos filhos dele e dela de perto.

De tantas sabedorias transmitidas por seu guru, o que mais encantou Bhaskar foi o entendimento de que a vida é muito maior do que nossa mente é capaz de nos apresentar. E quanto mais praticava meditações, menos ele se identificava com seus papéis sociais e mais livre se sentia. “Comecei a me perceber mais como testemunha do que como agente na vida, mais como um observador do que a vida ia fazendo de mim. Minhas funções sociais até podem conter informações sobre mim, mas eu não sou isso. Eu sou, digamos assim, aquele espaço onde o jornalista, o socialista, o meditador acontecem”.

E isso não tem nada a ver com conformismo ou alienação diante da vida. Tem a ver com “presença”. Como um observador atento e desperto, ele se tornou capaz de responder com mais qualidade a cada nova situação, sem a necessidade de corresponder às expectativas que o mundo e ele próprio tinham a seu respeito, de ser coerente com ideologias, ou mesmo com outras escolhas feitas no passado.

Segundo Bhaskar, o processo de autoconhecimento também envolve algumas dores, pois nem sempre é fácil olhar para si mesmo e encarar a pequenez de nossos desejos egóicos. “A jornada da busca espiritual começa a tirar da sua vida todo o lixo, todos os condicionamentos que a sociedade nos impõe para agradar aos outros e corresponder a expectativas sobre o futuro”, explica.

E de tanto tirar tudo aquilo que não somos, chega uma hora em que sobra apenas o que somos, o Eu Real. Era a isso que o mestre Bhagavan se referia quando anunciou que Bhaskar era um homem iluminado. E ele próprio tinha consciência de sua iluminação. Ao longo dos últimos trinta anos de meditação, vinha sentido, claramente, todas as ilusões do ego irem caindo. “Eu assisti a camadas e camadas de condicionamento indo embora, como se o Bhaskar real pudesse ver o Bhaskar social com desprendimento, com distanciamento”.

Nesse processo, passou por uma fase em que porque perdera as antigas motivações era difícil corresponder às expectativas profissionais, por exemplo. Se sentiu sem saber quem realmente era, como se houvesse perdido o chão sob os pés, e até pensou que estivesse ficando meio louco (ele ri). “Esse é o preço do processo. Você deixa de se identificar com as informações sobre você para chegar mais perto de você mesmo, o que é ao mesmo tempo vasto e vazio”, diz.

Há cinco anos, essa busca pela própria essência se intensificou muito, quando Bhaskar soube da existência do casal de gurus Sri Amma e Sri Bhagavan, cuja missão é contribuir para a iluminação coletiva da humanidade. Junto com Mila, ele foi até a Índia e passou por um processo energético de 21 dias, cuja base está na Diksha – canalização de energia através das mãos dos mestres impostas sobre a cabeça de quem vai recebê-la.

Bhaskar explica que a técnica é capaz de promover uma mudança neurobiológica. “Ao longo de nossa civilização, nossa atividade cerebral ficou muito concentrada em regiões responsáveis pelo sentido de orientação, do projetar e calcular. Essa é uma habilidade maravilhosa e nossa capacidade científica se desenvolveu muito, mas isso acabou nos levando a um excesso de julgamento e, portanto, a um sentimento de separação em relação aos outros, à natureza e a nós mesmos”, explica Bhaskar. A intenção da Diksha é reorganizar a qualidade da energia em partes do cérebro ligadas à unidade, à compaixão, ao amor e à alegria incondicionais.

Com o aprofundamento da técnica, Bhaskar foi sentindo cada vez mais constantes os vislumbres de iluminação que tinha com as práticas meditativas. Hoje, ele se compara a um oceano que não briga com as ondas das emoções e dos pensamentos, simplesmente as experimenta, reconhece sua riqueza e as deixa passar, sem se lamentar pelo que deveria ou não deveria ter acontecido. “A vida é simplesmente o que é”.

Durante toda essa jornada, Bhaskar não perdeu o contato com o mundo material. Ele sempre atuou como jornalista, tendo que trabalhar, ganhar dinheiro… Foi diretor-executivo da ANDI – Agência de Notícias dos Direitos da Infância por 7 anos, onde ganhou vários prêmios em reconhecimento pelo seu trabalho, e por outros 7 anos foi representante no Brasil e diretor de comunicação da Fundação Avina (de origem suiça). Hoje é vice-presidente do Conselho da ANDI, presta consultoria para empresas e ONGs e ainda ministra workshops sobre meditação e Diksha. “Cada vez mais, tudo isso é um grande templo para mim, não deixo Buda em casa quando vou trabalhar e também não excluo o mundo quando estou em retiro. Estou sempre em meditação, ou seja, no espaço de consciência. Tudo se torna um só dentro de mim, não sou isso ou aquilo”.

Depois que os interesses do ego se vão, não são os prêmios, o reconhecimento da família ou um orgulho pessoal que importam. O que motiva Bhaskar é a vontade de contribuir para que haja mais beleza no mundo, nas relações entre os seres deste planeta e em cada uma de suas ações cotidianas. Por isso, tem se dedicado com afinco ao tema do desenvolvimento sustentável e à área da infância (além de aos retiros espirituais que promove). “Se a vida fez com que essas habilidades profissionais se construíssem em mim, vou devolvendo os frutos disso à vida para fazer a cada dia um mundo mais ético e mais bonito. Mas, o que me move não é uma meta amanhã, é o que eu posso dar agora”.

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